A vida hoje afastou-nos da natureza:
as paisagens urbanas, com as suas florestas de betão,
encerram a vida entre paredes eficazes,
muito cômodas, é certo, mas o ar que respiramos
por alguma razão se chama “ar condicionado”.
O que acredito é que precisamos de amplitude,
de campos vastos a perder de vista,
de viagens mais profundas que as da rotina.
Precisamos perceber o silêncio das coisas,
cúmplice do silêncio da nossa alma.
Precisamos da liberdade leve dessas horas inapreensíveis
que passamos junto ao mar. Há um poeta que diz:
“Deus anda à beira d’água”. Não me admiro nada.
A imensidão, o nome límpido, a alegria azul do mar
são lugares onde Deus deixou o seu toque.
Os caminhos marítimos
para os outros continentes estão descobertos.
Falta, talvez, (re)descobrir o caminho marítimo
para o porto secreto de cada coração.
-José Tolentino Mendonça-
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