Os anos tornam-se longos na recordação se, ao repensá-los,
encontramos numerosos fatos a desenvolver pela fantasia.
Por isso, a infância parece longuíssima. Provavelmente,
cada época da vida é multiplicada pelas sucessivas
reflexões das que se lhe seguem: a mais curta é a velhice,
porque nunca será repensada.
Cada coisa que nos aconteceu é uma riqueza inesgotável:
todo o regresso a ela a aumenta e acresce, dota de
relações e aprofunda. A infância não é apenas a infância
vivida, mas a ideia que fazemos dela na juventude,
na maturidade, etc. Por isso, parece à época mais
importante, visto ser a mais enriquecida por considerações
sucessivas. Os anos são uma unidade da recordação;
as horas e os dias, uma unidade da experiência.
-Cesare Pavese -
in O Ofício de Viver
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